29/12/2011
2012: Continuar na luta, seguir na resistência!
Leia a mensagem de fim de ano do CFESS aos/às companheiros/as de luta
Momentos de luta e reflexão dos/as assistentes sociais em 2011 (fotos e montagem: Diogo Adjuto)
Cada dia do ano de 2011 foi de muita luta e resistência às sutis e invasivas faces do capitalismo contemporâneo, que se alastra em todas as dimensões da vida social, negando o atendimento às necessidades humanas e gerando a “injustiça que passeia pelas ruas com passos seguros” (Bertold Brecht).
É um cenário avesso aos princípios ético-políticos que norteiam o Serviço Social brasileiro e que, por isso, tem movido mentes e corpos de centenas de profissionais, que agem coletivamente por uma nova ordem societária, alicerçada na liberdade e emancipação humana.
Essa é uma luta que, por vezes, nos dá a certeza de que vale a pena remar contra a maré, face aos tantos obstáculos que nos são impostos, mas que, ao mesmo tempo, fortalece nossa capacidade de resistir. A materialização dessa resistência se efetiva no cumprimento de nossas bandeiras de luta! E como foi árduo e profícuo o ano de 2011...
Resistimos quando seguimos com várias frentes de luta pela consolidação das 30 horas, em tempo de negação de direitos e precarização das condições de trabalho da classe trabalhadora.
Resistimos contra a lógica mercantil que invadiu a educação brasileira, quando lançamos a campanha "Educação não é fast-food: diga não para a graduação à distância em Serviço Social", a qual, por ferir frontalmente os interesses mercadológicos, foi censurada pela Justiça. Continuamos resistindo quando o CFESS aderiu à Campanha pela aplicação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil na educação, reafirmando nossa luta pelo direito a uma educação pública, de qualidade, laica e presencial.
Resistimos contra o imobilismo e o conformismo quando promovemos e participamos de diversas mobilizações e de articulações políticas, como a marcha da Jornada Nacional de Lutas, a Marcha das Margaridas, a II Marcha Nacional contra a Homofobia, a Frente Nacional contra a Privatização da Saúde, a adesão à Frente Nacional contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do aborto; a presença em seminários do movimento da população de rua, do movimento dos sem-teto, no IV Congresso Nacional da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, e a participação nas Conferências Nacionais de assistência social, de saúde, da pessoa idosa, de políticas para as mulheres, da Juventude e LGBT.
Resistimos ao nos inserir, ativa e criticamente, em Conselhos, Fóruns e Conferências, com destaque para: Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (FNDCA), Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI). Estas e outras representações, como no Conselho Nacional de Saúde (CNS), no Fórum dos trabalhadores do SUAS (FNTSUAS), no Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU) e no Fórum das Entidades Nacionais dos Trabalhadores da Área de Saúde (FENTAS); que constituem espaços de socialização da política e de defesa dos nossos princípios, em defesa da universalização dos direitos.
Resistimos ao levar para a América Latina e Caribe nosso posicionamento frente à definição de Serviço Social da FITS, no 2º Encontro das Associações de Trabalhadores Sociais da Região Latinoamericana e Caribenha em Mendoza-Argentina.
Resistimos contra a onda conservadora em cada momento de capacitação do conjunto CFESS-CRESS, com vistas a qualificar a intervenção profissional e fortalecer nosso projeto ético-político, a exemplo da 10ª edição do Curso Ética em Movimento e do seminário Serviço Social e a questão urbana.
Resistimos ao silêncio com nosso grito de alerta nos 19 (dezenove) CFESS Manifesta produzidos, demarcando nossa posição política nas mais variadas questões e dimensões da vida, reafirmando nosso compromisso com a liberdade como um valor ético central, o respeito aos direitos humanos e a universalização dos direitos sociais, sob as bases de uma sociedade emancipada.
Há tanto ainda o que se lutar e resistir! Tantos desafios ainda a enfrentar! A certeza de que valeu a pena essa caminhada até aqui nos alimenta e nos energiza para prosseguirmos. Fortalecido/as coletivamente, seguiremos 2012 como mais um tempo de luta e resistência cotidiana às investidas desumanizantes do capital.
“ I
Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de
estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não
recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses, quando
falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
já está então inacessível aos amigos
que se encontram necessitados?
É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nado do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)
Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
se o copo de água que eu bebo, faz falta a
quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.
Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
Manter-se afastado dos problemas do mundo
e sem medo passar o tempo que se tem para
viver na terra;
Seguir seu caminho sem violência,
pagar o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!
Mas eu não consigo agir assim.
É verdade, eu vivo em tempos sombrios!”
II
Eu vim para a cidade no tempo da desordem,
quando a fome reinava.
Eu vim para o convívio dos homens no tempo
da revolta
e me revoltei ao lado deles.
Assim se passou o tempo
que me foi dado viver sobre a terra.
Eu comi o meu pão no meio das batalhas,
deitei-me entre os assassinos para dormir,
Fiz amor sem muita atenção
e não tive paciência com a natureza.
Assim se passou o tempo
que me foi dado viver sobre a terra.
III
Vocês, que vão emergir das ondas
em que nós perecemos, pensem,
quando falarem das nossas fraquezas,
nos tempos sombrios
de que vocês tiveram a sorte de escapar.
Nós existíamos através da luta de classes,
mudando mais seguidamente de países que de
sapatos, desesperados!
quando só havia injustiça e não havia revolta.
Nós sabemos:
o ódio contra a baixeza
também endurece os rostos!
A cólera contra a injustiça
faz a voz ficar rouca!
Infelizmente, nós,
que queríamos preparar o caminho para a
amizade,
não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.
Mas vocês, quando chegar o tempo
em que o homem seja amigo do homem,
pensem em nós
com um pouco de compreensão.
(Aos que virão depois de nós - Bertold Brecht)
Conselho Federal de Serviço Social (CFESS)
Gestão Tempo de Luta e Resistência (2011-2014)
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